quinta-feira, 28 de abril de 2022

Discurso para a formatura da Turma Arquitetos 2022 - UFPA

Estava com saudades de vocês, das nossas aulas, e, por conta disso, falarei ainda uma vez mais sobre arquitetura antes de lhes agradecer a homenagem que agora recebo. 
Nos últimos anos temos vivido momentos difíceis. A pandemia de Covid-19 nos colocou diante de situações inusitadas, e de muita irracionalidade também, inclusive no âmbito da arquitetura. Dentre fatos singulares por nós testemunhados, em nossa área, especulou-se o surgimento de uma “nova” arquitetura, a qual viria para manter as pessoas afastadas entre si, contrariando tudo aquilo que se deve buscar quando desenhamos espaços para a vida. 
Porém, quanto mais eu vivenciava esses estranhos tempos, menos eu pensava nessa tal “nova” arquitetura, a do distanciamento. Pensava eu, sim, na “velha” arquitetura, ancestral, aquela que nasceu com o homem objetivando protegê-lo, acima de tudo. Porque quando fomos obrigados, fugindo do contágio, a nos recolher em nossas casas, valores da arquitetura como manifestação cultural, expressão de tecnologia, testemunho histórico, anunciação de ideias, por exemplo, ficaram irrelevantes diante do seu papel de abrigo. Abrigo em seu mais amplo sentido, não apenas como teto físico, mas, sobretudo, como teto espiritual. 
A pandemia vai passar. A providência Divina, tenho fé, juntamente com as vacinas, irão vencê-la. E a razão primitiva da existência da arquitetura, que é a de abrigar, em todos os seus atos, a vida humana, terá, mais uma vez, comprovada a sua primordialidade. Portanto, ao projetarmos, antes de quaisquer propósitos, cuidemos do básico, do essencial, que é o provimento do amparo das pessoas. Essa é a nossa tarefa, nossa missão, e que Deus nos ajude a cumpri-la. 
Agradeço ao gesto nobre e ao carinho pelo qual vocês me permitiram participar dessa solenidade tão especial, agora. É uma honra, para mim, ladear seus paraninfos, que, aqui, representam todos os que lhes deram, nos limites do que poderiam, estejamos certos, as condições para que vocês concluíssem suas graduações. 
Também sou grato a vocês por tudo que aprendi durante nossa convivência. Não tenho dúvidas de que recebi mais lições do que penso haver ministrado. Compartilho, como não poderia deixar de ser, a generosa deferência que comigo tiveram, com todos os colegas professores e funcionários da FAU, e tomo a liberdade de o fazer na pessoa da Professora Gisa Bassalo, minha mulher, meu amor, da qual também sou aluno e admirador. 
Não esqueçamos, ainda, dos ex-professores da FAU, cujos ensinamentos até vocês chegaram em forma de herança, posto que somos, em alguma medida, produto de todos os que nos precederam. A eles também devemos gratidão pelo legado, e os homenageio nas figuras dos saudosos professores Paulo Cal, Jorge Derenji, Flávio Nassar e do meu mentor maior Cláudio Cativo, os quais deixaram, juntamente com aqueles, indeléveis marcas nas formações de todos nós. 
Muito obrigado.

JMCB - abril de 2022